Sábado. Fim de manhã. A rua se movimenta na sua pressa, escrava de seu precioso tempo. As pernas passam, são tantas, passam. Tantas pernas passam. Deixei minha sorte no varal, faça companhia ao tempo, por favor. Expus meus anseios na varanda de casa, deixei meu tempo pendurado.
Livros em mão, passos lentos, olhos ao alto, século XIX. O pé de um homem, desculpe-me. Olhava ao alto, séculos passados. Livros em mão, olhos ao baixo, atualidade. Um olá. Subo a rua, carros não passam, apenas gente, muita gente. Curta rua curta, que em seu final, alguém ganha seu dia, ganha seu pão. Perceptível estátua branca humana invisível. Notável, apenas aos que zombam e a mim. Imperceptível estátua branca ao sol, sua maquiagem não a sustenta mais, imóvel. Caixa de madeira ao chão, uma moeda. Analiso, um passo, medindo espaço.. "cesta!" A estátua grita. Susto breve.
Na banca não há nada de relevante interesse. Tempo gasto. Oh não, ele está em casa, no varal. Descendo a ruela, a estátua me avista, ela fala novamente, pergunta-me o por quê da pressa. Nem eu sei. Respondo-a. Ela está no varal, penso. Sorrio e tchau.
Faixa de pedreste, maçã do amor rejeitada, poesia de rua cantada, campanha na praça. O ônibus, acelere o passo. Não o acelere. Sinal fechado, ao alcance do ônibus. Lado da janela, lado da janela, lado da janela... não há lado da janela. Ao lado de um senhor, descanso meus joelhos. Olho disfarçadamente, em suas mãos calejadas "A águia e a galinha". "Gosta de ler?" Ele me pergunta. Olhada nada disfarçada, droga! "Uhum", respondo. Ele apenas ri, ufa. Passa-se dois pontos, ele se levanta, acena e se vai.
Lado da janela! o lado da discussão de um casal de namorados no ponto, de um senhor se deliciando com sua paçoca e a criança a olhar, o cachorro late, não se assuste senhora, é só um cachorro. Eu ri. 10 minutos, trem, 128 vagões, mania imbecil. Sinal. Desço.
Faixa de pedreste. 1, 2, 3, 4... 12 carros. E desde quando o 13 é o número da sorte? Mesmo assim não aposto. Atravesso. Minha rua. Minha casa. Gritam-me de maneira enrolada. É o bebê da vizinha. Meu Deus, mais um viciado em baton, isso passa? Fiel comprador diário como eu. Vício de 15 anos não de 1 ano e 9 meses. Um beijo, um abraço, cócegas, tchau. "Olha, aí está você sorte! Como foi a manhã tempo?"
Pendurei o que é de mais sedutor. Sinta o vento, olhe o sol, merecem ficar mais um tempo aí. Deixei minha sorte no varal, faça companhia ao tempo, por favor. Observem a luz, o pôr-do-sol, olhem a noite, por favor. Não há aval. Deixe-me a Deus dará e por hoje a sorte não virá, nem o tempo. Deixei-me a Deus dará.
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