Traduzido em:

domingo, 27 de junho de 2010

A Deus dará

Sábado. Fim de manhã. A rua se movimenta na sua pressa, escrava de seu precioso tempo. As pernas passam, são tantas, passam. Tantas pernas passam. Deixei minha sorte no varal, faça companhia ao tempo, por favor. Expus meus anseios na varanda de casa, deixei meu tempo pendurado.
Livros em mão, passos lentos, olhos ao alto, século XIX. O pé de um homem, desculpe-me. Olhava ao alto, séculos passados. Livros em mão, olhos ao baixo, atualidade. Um olá. Subo a rua, carros não passam, apenas gente, muita gente. Curta rua curta, que em seu final, alguém ganha seu dia, ganha seu pão. Perceptível estátua branca humana invisível. Notável, apenas aos que zombam e a mim. Imperceptível estátua branca ao sol, sua maquiagem não a sustenta mais, imóvel. Caixa de madeira ao chão, uma moeda. Analiso, um passo, medindo espaço.. "cesta!" A estátua grita. Susto breve.
Na banca não há nada de relevante interesse. Tempo gasto. Oh não, ele está em casa, no varal. Descendo a ruela, a estátua me avista, ela fala novamente, pergunta-me o por quê da pressa. Nem eu sei. Respondo-a. Ela está no varal, penso. Sorrio e tchau.
Faixa de pedreste, maçã do amor rejeitada, poesia de rua cantada, campanha na praça. O ônibus, acelere o passo. Não o acelere. Sinal fechado, ao alcance do ônibus. Lado da janela, lado da janela, lado da janela... não há lado da janela. Ao lado de um senhor, descanso meus joelhos. Olho disfarçadamente, em suas mãos calejadas "A águia e a galinha". "Gosta de ler?" Ele me pergunta. Olhada nada disfarçada, droga! "Uhum", respondo. Ele apenas ri, ufa. Passa-se dois pontos, ele se levanta, acena e se vai.
Lado da janela! o lado da discussão de um casal de namorados no ponto, de um senhor se deliciando com sua paçoca e a criança a olhar, o cachorro late, não se assuste senhora, é só um cachorro. Eu ri. 10 minutos, trem, 128 vagões, mania imbecil. Sinal. Desço.
Faixa de pedreste. 1, 2, 3, 4... 12 carros. E desde quando o 13 é o número da sorte? Mesmo assim não aposto. Atravesso. Minha rua. Minha casa. Gritam-me de maneira enrolada. É o bebê da vizinha. Meu Deus, mais um viciado em baton, isso passa? Fiel comprador diário como eu. Vício de 15 anos não de 1 ano e 9 meses. Um beijo, um abraço, cócegas, tchau. "Olha, aí está você sorte! Como foi a manhã tempo?"
Pendurei o que é de mais sedutor. Sinta o vento, olhe o sol, merecem ficar mais um tempo aí. Deixei minha sorte no varal, faça companhia ao tempo, por favor. Observem a luz, o pôr-do-sol, olhem a noite, por favor. Não há aval. Deixe-me a Deus dará e por hoje a sorte não virá, nem o tempo. Deixei-me a Deus dará.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Mundo fechado

Por enquanto o mundo se fechou. Subindo a rua alta, fôlego esbaldado, mãos frias, mente soberba. Por enquanto os olhos se fecham, calam-se e o coração aperta, os sorrisos se fecham. A rua se acaba. Por enquanto o mundo se fechou. O céu rosa anuncia fim de tarde, parece serenata inconveniente que em mim fez moradia. A noite é fria, ela não brilha mais, não por hoje, amanhã quem sabe.
Gente humilde. Breve consolação, pronto desespero em pranto. Poste, esquina, meio-fio. Carros, pessoas e cachorros. Pressa, relógio, casa.Ensaia-se um rock, dança-se um blues, engata-se um samba. Água mineral, bamba a la bamba. Evoque-se. Não perca tempo, perca tempo. Hoje o mundo parou. Stop! Hoje o mundo parou.
Desliga-se o som, deixe sua mente. Enalteça-se, cresça. Ensaia-se um rock, dança-se um blues, engata-se um samba. Suco. Liga-se o som, não deixe sua mente.Por enquanto o mundo se fechou. Acaba-se o som, acaba-se a noite. Atire-se a brisa, toque o vento. Acaba-se a noite. Entorpeça-se. A noite veio, me deu um beijo e se foi. O sonho veio, amedrontou-me e se foi. Por fim, o sol veio, deu bom-dia e eu me calei. Aqueceu-me e eu me calei.
Ensaia-se uma cena, uma dança, caia na valsa, entre no tango. Ensaia-se um novo mundo, uma nova dança, uma nova vida. Caduca-se, faça-se, saia-se ao si.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Além do que se vê

E foi tocar suas mãos, apertá-las e olhar em seus olhos, os olhos mais lindos que já pude ver, que eu percebi o frio subir pelos meus pés e passar pelos seus dedos até você sentir o mesmo e comentar.Desconversei. Era desesperadora a idéia de te perder, de não poder mais te tocar e te ouvir. Era inimáginável eu me deparar com sua perda, esvaindo de minha vida sem ao menos eu fazer algo, eu, ser inútil. Sem sua voz, sem seu olhar, seu sorriso e sua sabedoria. Era totalmente insano eu não ter mais comigo o meu maior presente oferecido pelos meus pais, era insano eu não te ter. Única feita de imenso respeito e pureza, coração belo refletido em tua majestosa beleza. Nossas mãos se soltaram. O carro seguiu, o meu medo aumentou.
Sozinha, o rádio ligado, internet inútil. O telefone era ensudercedor, ele tocava, esquecido, nenhum número interessante, não para aquele momento. Duas horas se passaram, não havia fuga, não havia edredom, muito menos alguém que fizesse me esconder do mundo e nele me perder. Os pensamentos são os mesmos, o filme também, momentos desde minha mais velha infância até agora, em todos os flashes você. Em todos os telefonemas diários você, até os que apenas diziam que eram para ouvir minha voz e me mandar ficar com Deus. É, Deus! Cadê Ele? À Ele eu disse tantas coisas, à Ele eu pedi pelo amor mais sincero e necessário para que eu me mantivesse em pé.
Peguei o telefone, eu queria ouvir tudo, eu não queria ouvir tudo. Mas ele somente tocou. E como resposta, um grito no portão, o carro parara em minha porta novamente. Era você escoltada, era você linda, exuberante novamente, novamente pra mim, para as minhas mãos, para a minha vida. Um abraço. O mais forte, o maior alívio de todos, eu quis chorar, eu quis rir, sinceramente, eu quis gritar para o mundo todo me ouvir. Mas nada saiu de minha boca, de meus olhos, foi estranho, foi perfeito. Eu te amo desde o meu primeiro momento, eu te amo desde os meus piores momentos, desde o meu refúgio em sua casa, das horas que abandonei as fases ruins e me escondi de tudo e de todos com você, eu te amo porque você é o meu anjo maior, Deus me mandou você, eu sei. Eu te amo porque não existe nenhuma outra palavra ou forma que demonstre o que eu realmente eu sinto por você. Eu te amo e por esse minuto isso me basta.