Traduzido em:

sábado, 3 de março de 2012

Nuvem passageira


Sinto-me primavera. E quanto mais me sinto, mais percebo flores brotarem dentro de mim. É que a gente possui um jardim dentro de si. E vale tanto ouro zelar por ele. Ouro cor de acácia. E faz um jardim tão imenso e intenso, que uma hora você o transpira e ele lhe salta os poros.
Hoje, eu deitei sobre o meu jardim no chão de sala. E do chão de sala, eu via o céu lá de fora. Perdi as contas de quantas nuvens colecionei e de quantos desenhos pintei. Olhei, ainda deitada, e lá estava você ao meu lado - deitado também - sorrindo. Lembramos do dia que você havia me dito que as estrelas de todo essa imensidão azul representava alguém. Que as pessoas possuem o seu brilho e se tornam luz de alguém ou algum. Lembramos do dia que você viajou e de que quando a saudade apertou, você me enviou: "Se estou longe, olho a noite para o céu e te vejo. Pois você é luz! E caso sinta saudade de mim, veja meu reflexo na sua estrela". Foi como se eu vivesse tudo novamente e sentisse falta de quem estava colada. Brincar de se esconder um do outro ultrapassa sentindo. A gente procura pelo outro mesmo unido. A música parou! E querer mais música me remetia a ideia de levantar do chão, perder a próxima remessa de nuvem e te perder. "Eu opto por ficar!" Há sempre música e, às vezes, a música do silêncio norteia a mente e aquieta coração. No meu caso, coração sambou! Fez-se roda no meu portão. Ouvi um grito pelo meu nome e, lentamente, levantei-me. Você apertou minhas mãos e eu, na calçada, sentei-me. As nuvens cresceram e escureceram. A chuva chegou, relampiou e minha perna lavou. E quando ela se foi, eu já sabia que você tinha ido com ela. Voltei do mercado da esquina enquanto me esperavam na rua. E lá estava eu... a sua procura de alma nua. De vida crua, mas ainda sua!
E aqui estou eu... torcendo para que jamais chegue outono. Porque se é tempo de primavera, eu quero me perfumar de todo o jardim.